quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Eu-incendiário

Queimar almas é muito fácil - você nem precisa ser um piromaníaco, psicopata ou sádico. Existem dois tipos de alma:

1- as delicadas, frágeis, que viram cinzas e pó com a faísca mais simples;
2- as resistentes, fortes, até estremecem ao contato com o calor, mas dificilmente se desfazem assim, rapidamente.

Recomendo a você, jovem incendiário, que treine um pouco com o primeiro tipo. Vagueie entre elas, marque, machuque, espalhe chamas indiscriminadamente. Além de trazer habilidade, pode ser extremamente prazeroso, eu garanto.

Depois de adquirir experiência, você pode partir para as almas do segundo tipo. Como agir? É mais tranquilo do que imagina, sabe, mas exige uma paciência considerável e, sobretudo, convicção e força de vontade. Por que? Terá que tocar fogo uma, duas, três, incontáveis vezes. A princípio, a alma parecerá intacta, inabalada, sempre se recuperará com destreza. Entretanto, por dentro, ela nunca será a mesma novamente. Sempre haverá um pedacinho queimado, uma pontinha cinzenta que ficará ali, conservada e irrestaurável. E é aí que entra sua persistência: com as repetições, mais e mais partes serão consumidas pelas chamas, mesmo que lentamente. Os resultados podem vir quase que tardios, mas chegarão.

Tenho me tornado expert nessa modalidade e reafirmo: os efeitos são reais! Quase não há mais alma em mim.