domingo, 28 de outubro de 2012

Eu, o teto e o céu

Hoje a lua se exibe redonda, amarelada, completa em frente à minha janela, circundada por gordas nuvens cinzentas. A janela é estreita e não me permite nada além da observação, mas comprida o suficiente para que eu cole permanentemente nas ideias um longo recorte emoldurado de céu bem acima de mim. Fecho os olhos e nada mais existe: a cadeira, a mesa, o computador, os vasos cheios de curvas, os quadros coloridos, as paredes, o chão; há apenas negrume, cinza e amarelo... e então, insatisfeita do mundo como sou, teimo em olhar para o alto, um mergulho temerário na vastidão tão conhecida, e afundo a cabeça no teto. Toda vez.

Antiga é a fascinação pelo ideal, como seria com um árcade entre tantos outros. Escolhido o objeto, o próximo passo é atingir em cheio esse estado de suspensão, arrebatado por sentimentos quaisquer, não muito bem definidos ou sequer passíveis de definição. Uma situação que tange o desconforto, mas o que é o incômodo quando, da dor, só se extrai deleite?

Depois de muito observar, quase alcançando a exaustão, a lua some, recoberta pelas nuvens que antes pareciam estáticas ao seu redor. Me lembro que há uma porta aberta ao meu lado - e sempre estão lá, as portas abertas. Não que seja uma solução para ampliar o que antes era um pedaço retangular de universo porque aquela imagem já se dissolveu, as nuvens andaram e o mundo girou. E mesmo na rua, num campo, perdida no espaço, sempre existirá um teto entre mim e o céu.