quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Miríade

Você já desejou muito alguma coisa? Muito mesmo, a ponto de sentir como se seus ossos não mais pertencessem a você, como se se tornassem lanças prontas para atravessar sua carne e ir de encontro ao céu? Como se sua pele, sempre fria, agora ficasse rosácea e febril, te deixando tonto, ardendo mais e mais até que só restasse no lugar do corpo uma imensa pira? Como se o ar se rarefizesse ao extremo e o ato de inspirar significasse um clamor, uma oração? Como se os olhos estivessem sempre baços, a boca estivesse seca e as mãos não existissem mais? Como se nada ao redor fizesse sentido? As músicas, as conversas, as cores, os móveis, a cerâmica gelada, as paredes, suas esquinas e a constante impressão de que tudo isso converge para o mesmo fim: o seu fim...

Você já desejou tanto alguma coisa a ponto de não conseguir fazer absolutamente nada sobre isso?

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Desvario

Se desfaço o tempo em mim
não há mais tempo pra lembrar
me perco noutra cena 
que jamais vai existir
e, assim que o sol morrer,
a mente vai se esconder
e o vazio, se expandir.

Como posso me abster
dos desejos de um coração
se o que já não posso ter
é dissolvido em aspiração?
Me afogo no soturno.

Não preciso mais de luz,
coisa viva ou real
aqui, sob o céu noturno.

E, enfim, me decompus.