quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Miríade

Você já desejou muito alguma coisa? Muito mesmo, a ponto de sentir como se seus ossos não mais pertencessem a você, como se se tornassem lanças prontas para atravessar sua carne e ir de encontro ao céu? Como se sua pele, sempre fria, agora ficasse rosácea e febril, te deixando tonto, ardendo mais e mais até que só restasse no lugar do corpo uma imensa pira? Como se o ar se rarefizesse ao extremo e o ato de inspirar significasse um clamor, uma oração? Como se os olhos estivessem sempre baços, a boca estivesse seca e as mãos não existissem mais? Como se nada ao redor fizesse sentido? As músicas, as conversas, as cores, os móveis, a cerâmica gelada, as paredes, suas esquinas e a constante impressão de que tudo isso converge para o mesmo fim: o seu fim...

Você já desejou tanto alguma coisa a ponto de não conseguir fazer absolutamente nada sobre isso?

Um comentário:

  1. Nunca, mas tão desejável que eu me forçaria a tanto caos, tanta bagunça...

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